terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Acidente Com A Pá De Lama

Imagine a cena, um limpador de piscina, com cara de comediante (quem sabe Didi Mocó, Chico Anysio ou até Bussunda) que está trabalhando numa manhã tranquila, com uma daquelas varas longas de aluminío, com uma peneira na ponta, para catar folhas boiando na água. De repente a cena corta e você vê que na verdade ele está trabalhando à beira de uma represa, e troca a ponta com a redinha por uma ponta de pá, e sinistramente começa a colocar 40 bilhões de litros de pás de sujeira dentro d'água, o equivalente a 25 mil piscinas olímpicas, numa imagem digitalmente acelerada pois levaria vários dias para colocar a quantidade de químicos e metais venenosos contidos nas represas de Fundão  e Santarém para dentro do Rio Doce, o sagrado Waitu.  Foi essa cena digna de um episódio dos Trapalhões que Ailton Krenak descreveu ao falar da tragédia que já leva mais de 6 meses sem nenhuma punição para as partes envolvidas. Em uma entrevista para a Folha de São Paulo Ailton disse que o crime era "uma pá de lama no Rio Doce".  O que será que um dos líderes indígenas mais importantes do Brasil quis dizer com essa frase?

As barragens ficam perto da mina de Germano em Bento Rodrigues, cerca de 25 km de Mariana-MG. No dia 5 de Novembro de 2015 as barragens se romperam e trouxeram novamente uma enxurrada de devastação para uma região perseguida pela Nova Ordem Mundial à mais de 200 anos, desde a primeira Guerra Justa. Parece que a tragédia traz os Krenaks mais uma vez ao centro das atenções mundiais.  O mais chocante, e quem sabe o motivo de eu ter demorado tanto para postar sobre o assunto, é que essa tragédia foi anunciada, e sem querer eu escrevi sobre o isso sem sequer ter a idéia da tragédia que viria a partir do "ritual" que eu descrevi.  A suposta "zombaria" na sapucaí na comissão de frente da Salgueiro, era apenas uma anunciação do que viria a seguir aquele ano.  Aquele é um territótio de lutas históricas entre o Estado e os "Botocudos".  Na linguagem das elites eles estão nos dizendo: "Olhem seu povo burro, não adianta ficar lutando como o Ailton desde os anos 70 por suas terras, porque a gente é poderoso! A gente faz o que a gente quiser e humilha vocês de um jeito ou de outro!".  Eles buscam nos levar a um estado de "Impotência Adquirida"  (learned helplessness). Isto seria um estágio de sobrevivência onde a desgraça é tão grande, e as mazelas são tão esmagadoras (neste caso literalmente), que as pessoas desistem de tentar lutar contra o sistema e jogam a toalha.


Será por isso que Ailton, um dos maiores ativistas indigenistas de todos os tempos parece tão contido em relação ao desastre da Samarco? Uma terra indígena que ele próprio lutou para recuperar!  E não foi qualquer terra, a T.I. Krenak em Resplendor-MG foi utilizada como campo de concentração durante a ditadura militar. Pelo menos 120 indigenas passaram por ali e a maioria foi torturado e submetido a trabalho escravo. Indíos de todo Brasil eram levados para lá por motivos risórios, alguns como ordem direta de Brasília. Nos anos 80 o Intituto Correcional Posto Indígena Guido Marlière encerrou as atividades, depois que um índio Juruna, João Geraldo Itatuitim Ruas, um dos primeiros servidores de origem indígena a ocupar postos de comando na Funai, começou a enviar de volta os confinados para suas terras de origem, e perdeu seu cargo meses depois. A terra foi devolvida aos Krenak então e homologada em 2001. Este documentário explica bem este momento sombrio da nossa história:




Aqui vai um trecho de uma ocasião quando nosso parente Borum (nome dos Krenak no idioma Macro-Jê) foi tirar satisfações com Darcy Ribeiro sobre a situação de sua etnia:

"Darcy Ribeiro apresentou esses índios como extintos. Uma vez, quando ele era secretário de Cultura, do governo Brizola, fui visitá-lo com um grupo de guaranis no Rio de Janeiro. Por coincidência, nesse dia havia caído um temporal. Fomos andando a pé, da rodoviária até a Secretaria. Parecíamos uns pintos molhados. O guarda da Secretaria estranhou e disse que o secretário não iria receber aqueles pedintes descalços, com calças e camisas molhadas. Mas, apesar disso, entramos no gabinete do Darcy para cumprimentá-lo e ele perguntou como é que estávamos. Respondi: “Como você disse que nosso povo está extinto, um fantasma veio lhe visitar. Porque, pelo seu livro, estamos mortos. Quem está extinto não dá notícia”. Darcy deu uma risada e perguntou: “Continua a matança em cima de vocês?”. Falei: “Claro que continua. Vim aqui pedir sua intervenção junto ao governo para que a Funai e as outras agências do governo parem essa perseguição contra as restantes famílias de ‘Botocudo’”. (Estudos Avançados - USP 23 [65]) 
Talvez nosso parente esteja numa situação dividida, com toda esta confusão nacional acontecendo é compreensível que algumas pessoas escolham se retrair. Como ele próprio explicou na entrevista à Radio Yandê! onde ele fez um trocadilho com o que o estado diz pregar: "Índios no poder!" mas na verdade o que o ocorre é a forma em castelhano da frase: "Indios no poder" (Índios não podem). MAS A SITUAÇÃO ESTÁ INTOLERÁVEL!!! Está na hora de dizer: "Índios podem sim!" Esse país é nosso!!! Quem sabe até imitar os tempos de bravura retratadas no filme "Indio Cidadão" onde Ailton pinta o rosto de jenipapo em sinal de luto pelo retrocesso na tramitação dos direitos indígenas.  Considerando a gravidade da situação desta vez, talvez o momento peça algo ainda mais drástico: quem sabe pintar o corpo inteiro de jenipapo e ir até Mariana totalmente nus! O que vocês acham?




Seria isso alguma manobra macabra para frear o crescimento do nossos país que vem se desenvolvendo muito na última década?  Será que este desastre horrendo ocorreu para desviar a atenção da abertura do impeachment contra a presidenta Dilma que aconteceu logo depois?  Seria esse acidente parte de uma barganha com as grandes corporações para jogar o Brasil mais ainda na lama, do que já estava após nossa humilhação na Copa?  Esta resposta parece que ainda vai demorar, mas à primeira vista serviu para "queimar nosso filme" internacionalmente, mais ainda do que com o vexame da fatídica Copa do Mundo.  Que igualmente às Olimpíadas, não nos trará nada de bom.  Muitos sonharam que este evento iria trazer anos melhores, prosperidade, e respeito perante a comunidade internacional, como aconteceu em outras cidades ao redor do mundo, mas por enquanto o cenário não parece favorável.  Pelo visto nossos jogos estão mais pra Olím-piadas, piadas sem graça.

Muitos nas redes sociais acordaram pra vida, reivindicando uma justiça de "visibilidade", entre os países ricos e pobres.  Já que na época do desastre a mídia não deu a devida atenção para o incidente, por um lado haviam ataques "terroristas" na França, e por outro lado um ecoterrorismo em Minas Gerais. Nossa presidente colocou as forças armada à disposição do resgate de quaisquer feridos, mas demorou mais de 7 dias para visitar/sobrevoar o local, e como já era de se esperar, nenhum culpado foi julgado e não há nenhuma esperança no horizonte de que isto aconteça algum dia.  Quando ministra ela Já havia participado da polêmica autorização da barragem de Belo Monte como podemos ver no filme "Belo Monte - Anúncio de uma Guerra".  No dia seguinte ao término da visita a presidenta assinou um documento decretando o caso como "desastre natural".  Muitos atacaram o governo dizendo que eles estariam tentando isentar a Vale/Samarco/BHP Billiton de qualquer responsabilidade. Outros vieram com panos quentes dizendo que ela fez isso para possibilitar o saque da população de seu FGTS (que só é possível em casos como esse). Mas é óbvio que isso terá um reflexo no processo penal que essas empresas enfrentarão:




Judicialmente, o histórico de multas ambientais pagas no Brasil, segundo dados do TCU (Tribunal de Contas da União), atinge o montante de 3%. A impunidade das empresas que cometem crimes ambientais é também respaldada pela justiça, uma vez que os responsáveis podem recorrer das decisões em pelos menos duas instâncias no Ibama e podem, ainda, apelar para o poder judiciário.  A mídia como um todo, ambientalistas tradicionais como Marina Silva e Fernando Gabeira estão absolutamente calados, e quando falam algo, é totalmente inútil, geralmente na linha do "vai tudo ficar bem" ou "o rio irá ressuscitar". Muitos resolveram criticar a privatização/doação da Vale por Fernando Henrique Cardoso, e disseram que o problema começou ali, fato que já havia sido historicamente denunciada pelo falecido/assassinado Dr. Enéas Cardoso. Não seria de se surpreender que os banqueiros estrangeiros dariam tanta importância a nossos minérios, já que desde a época de José de Bonifácio isso não é novidade pra ninguém, analisando o fato de que antes de entrar para a política passou grande parte de sua vida sendo preparado na Europa para auxiliar na exploração dos mesmos, estudando nas melhores instituições cada detalhe desta ciência, e inclusive sendo pioneiro em avanços nesta área, infelizmente apenas para o benefício de nossos colonizadores.  Estamos literalmente entregando o ouro ao bandido, ao molejo de um carnaval, à cada final de semana caímos no samba, e não fazemos nada para impedir a extorsão de nossas riquezas.  Os modelos econômicos delirantes servem para sucatear nossas maiores empresas, para que sejam vendidas à preço de banana depois da crise. E com isso colocamos a culpa em quem? Nós mesmos! Nos julgamos imprestáveis para administrar nossas próprias empresas, por isso clamamos: "Venham gringos, nos salvem de nossa própria incompetência", e o Tio Sam responde: "Hahhahahahah com todo prazer!"


Muitos parentes pressentiram o acontecimento. Eles disseram que o próprio Waitu sabia que iria ser assassinado.  O que se escutava logo no início é que duas barragens se romperam por já estarem danificadas, e foi logo depois que começou a se falar de terremoto. Como assim, no Brasil não existem terremotos! Falou-se também que inspetores já haviam ido avaliar as condições das barragens meses antes, mas nada foi encontrado ou providenciado. Como pode ser uma coisa dessas, vamos engolir a seco outra vez? Tudo junto ao mesmo tempo? Estão tentando enfiar nossos cérebros em um liquidificador até ele virar uma pasta branca, como um liquid-paper, para que possam escrever o que quiserem. Pois é isso que iremos virar se continuarmos tão pacíficos: apenas androides. Paranoid Androids.




Partes do Rio secaram ao ponto de virarem simples estradas de terra, levando a prefeitura de Colatina-ES a decretar estado de emergência.  A população desse região sofre com a falta de água potável. O Rio Doce nasce em Minas Gerais, nas serras da Mantiqueira e do Espinhaço, e atravessa 17 municípios até desaguar em Regência, um distrito de Linhares, no Espírito Santo. Suas águas abastecem dez cidades. Cinco delas estão com o abastecimento suspenso por causa do lamaçal: Governador Valadares, Periquito, Galiléia, Tumiritinga e Alpercata.  Grandes quantidades de animais morreram e parte da população está tendo que deixar a região.  O fornecimento de água está tendo que ser feito pelo exército, porque as cidades afetadas vivem um verdadeiro caos, porque além da crise hídrica a economia local também está gravemente afetada.


Os laudos químicos oficiais produzidos pela marinha tiveram sua divulgação proibida, e depois liberada, e depois proibida de novo.  O IEMA, instituto capixaba de meio-ambiente, não tem previsão de divulgar o resultados da pesquisa e a Marinha não tem autorização para repassar detalhes. A população protesta, mas ainda não é o suficiente. Portanto atualmente contamos com as análises independentes do GIAIA e do SOS Mata Atlântica, que decidiram levar adiante a pesquisa depois do governo declarar que:  “a água do Rio Doce tem mesma qualidade de antes do rompimento de barragem”, atribuindo a morte de peixes somente à diminuição da quantidade do oxigênio na água.  As matérias postadas aqui mencionam estações de tratamento, e uma proibição para a volta de moradores àquela região. Será que isto já seria uma manobra para se apossar de nossa água para num futuro próximo começar a cobrar e lucrar com nosso recurso mais precioso, do qual possuímos 30% das reservas (de água potável) mundiais?  A conclusão dos laudos técnicos oficiais foi divulgada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Serviço Geológico Nacional (CPRM): “Os resultados de novas amostras colhidas em diversos pontos do rio comprovam que a qualidade da água é compatível com análises feitas pelo CPRM em 2010. Os laudos apontam que, depois de tratada adequadamente pelas companhias de saneamento –de acordo com os padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde–, a água pode ser consumida sem riscos”, ou seja, nós limpamos a água que nós próprios sujamos pra vocês, mas pode ter certeza que agora quando quiser beber vai ter que pagar!




 As tentativas de convencer a população de que a água é segura para consumo vão desde a veiculação da imagem da prefeita bebendo um copo de “água tratada” até a proibição da entrada de garrafas de água mineral nas escolas municipais. A medida foi revogada graças à revolta dos pais que, assim como a população valadarense, desconfiam da água distribuída pelo SAAE, que chegava amarelada, com cheiro e gosto contaminados. Segundo o Secretário de Educação, “assim como não pode levar lanche de casa, não pode levar água de casa. É obrigação nossa prover água de qualidade, e água de qualidade é a água tratada pelo SAAE”.  A área parece estar com acesso restrito. O que torna a situação mais macabra, revoltante, e intolerável. No momento os únicos responsáveis em diminuir o estado de calamidade em que a região do Vale se encontra são a sociedade civil, que tem levado água potável, roupas e mantimentos para as pessoas desabrigadas, e estão se mobilizando para fazer oficinas de construção de cisternas para retenção das águas das chuvas.


Vamos analisar o acidente em si. Por que por mais que as barragens precisassem passar por uma manutenção, por mais que estivesse caindo aos pedaços, em condições precárias, é muito difícil de acreditar que duas barragens se rompam juntas no mesmo dia sem que nenhuma providência seja tomada.  Ou seja, se não houve uma bomba explodindo, o que poderia ter causado esse rompimento? O tremor! Sim este que já foi comprovado pelo observatório da UnB de 1.5 e 1.8 na escala Richter. Mas de onde veio? Quem causou estes mini-terremotos?  Sabemos que o HAARP, a arma tectônica (máquina de fazer terremotos) já foi denunciada por ministros do Japão, da Rússia e da Venezuela. Neste caso não sou eu que estou vindo com teorias conspiratórias, outros na internet já tomaram a frente num estudo muito bem feito pelo Samurai Sagrado em seu canal "Conhecimento é Poder".


A única coisa que confunde minha cabeça é que, se realmente a Dilma e o PT foram vítimas de uma espécie de "complô", que culminou em seu afastamento por 180 dias. Se o Partido dos Trabalhadores estão sendo vítimas de uma tentativa de "coerção forçada" que ameaça até de levar o ex-presidente Lula para para a cadeia. Porque a Dílma foi tão rápida em assinar um documento que eximia a Vale do Rio Doce de toda responsabilidade pela tragédia? Não deveriam estas empresas estarem em ataque maciço pelo partido "nacionalista"? Quem está defendendo os interesses nacionais? Isso não seria motivo suficiente para re-nacionalizar esta empresa multinacional? Pra que servem o raio das informações do Wikileaks de Edward Snowden se a gente não consegue nem ao menos processar uma empresa que comete um ato de terrorismo em pleno solo brasileiro, afetando 3 estados!!! Que políticos são esses que se dizem defensores da pátria e ficam de braços cruzados? Será que está havendo uma espécie de "Política das Tesouras", para entreter as massas?




Algumas ações de apelo e compaixão tem sido feitas por fotógrafos, videomakers e artistas como Gabriel Pensador e Falamansa, que lançaram um clipe sobre Mariana no ano passado. Mas o problema é que embora as músicas sejam boas, elas não dão nomes aos bois. E às vezes não  é suficiente mostrar o sofrimento das pessoas, porque se assim fosse, Sebastião Salgado e Cidade de Deus já teriam salvado o Brasil e já nos encontraríamos no primeiro mundo, porque o que mais tem na TV é a desgraça do nosso povo. É preciso tomar atitudes concretas e bater de frente com esses canalhas!  Enquanto isso tudo acontece nosso parente nem sequer atualizou seu Blog! Nenhum post em Novembro/Dezembro quando a lama devastava a Aldeia Krenak. Onde foi parar nosso super-herói botocudo na nossa hora de maior desespero?


Vale à pena lembrar que Ailton também produziu a série de TV chamada "Índios no Brasil", um dos melhores programas de televisão ao meu ver neste gênero.  Além do CD "Cantos nas Montanhas" que inclui canções Krenak, Maxakali e Pataxó.  No momento não acho que cabe a nenhum de nós julgar este grande indígena, apenas ponderar e esperar que ele nos guie para dentro do Vale em breve para nos mostrar que nós não ficaremos omissos, muito menos calados. O momento é de luta!




Terminemos a matéria então refletindo sobre o poema profético de Carlos Drummond de Andrade, que foi considerado um dos mais influentes pensadores do século 20.  Como sempre a vida se desenvolve em ciclos: pouco antes de sua morte, o escritor publicou o poema que parece ser o retrato do desastre que destruiu o Rio, antes doce. Creio que o poeta mineiro não imaginava que ao publicar o poema Lira Itabirana estaria prevendo um dos maiores, quiçá o maior desastre ambiental da história do Brasil: o rompimento das barragens da Vale-Samacro em Minas Gerais:

“Lira Itabirana”
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga. 
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?




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